Pato relata frustrações: ‘Já me via segurando a Bola de Ouro’


O atacante Alexandre Pato, atualmente no Orlando City, time que disputa a MLS, dos Estados Unidos, abriu o coração em carta publicada nesta terça-feira, 31, pelo The Player’s Tribune, site que narra histórias em primeira pessoa de atletas profissionais. 

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Entre diversos assuntos, ele falou sobre dificuldades de saúde enfrentadas ainda na infância, da precoce transferência para o Milan, das inúmeras lesões sofridas e a frustração por não ter alcançado a Bola de Ouro após um início avassalador no futebol, em 2006. 

“Eu sei o que você está pensando. Faz dez anos que eu ouço isso. O que aconteceu com o Pato? Por que o Pato não ganhou a Bola de Ouro? Por que o Pato estava sempre machucado?”, iniciou dizendo.

Pato conta ter se arrependido por não ter desmentido durante os anos de carreira os rótulos que carregou e as “mentiras” que diz ter ouvido de jornalistas, principalmente as de que não tinha ambição e que vivia no mundo da fantasia. “Eu era instruído a focar no futebol, eu era muito jovem para discordar”, relatou.

A não conquista de uma Bola de Ouro foi uma das maiores frustrações que carregou após receber o Golden Boy em 2019, conceituada premiação criada em 2003 entregue pelo jornal italiano Tuttosport ao melhor jogador de futebol com menos de 21 anos.  Entre os brasileiros, somente ele e o ex-meio-campista Anderson, em 2008, pelo Manchester United, levaram o troféu.

Pato já na reta final de sua passagem pelo Milan –Olivier Morin/AFP/VEJA

“Pato será o melhor do mundo, Pato vai ganhar a Bola de Ouro. Eu amava essa atenção. Eu queria ser o centro das atenções. Mas sabe o que aconteceu? Sonhei demais. Por mais que eu me dedicasse no dia a dia, a minha imaginação me levou a vários lugares. Na minha cabeça eu já estava segurando a Bola de Ouro. É inevitável, cara. É muito difícil não se deixar levar. Sofri muito para chegar lá. Por que eu não deveria aproveitar o momento?”, desabafou em um trecho.

“Quando eu venci o Golden Boy como o melhor jogador jovem da Europa, em 2009, eu não estava pensando na Bola de Ouro. Eu estava apenas curtindo o meu futebol e… opa! Um prêmio. Eu era imparável quando estava vivendo o presente, mas a minha mente foi parar no futuro”, completou.

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Aos 32 anos e sem ser convocado para a seleção brasileira desde 2013, Pato mencionou algo curioso: ainda tem esperanças de disputar uma Copa do Mundo.

Última chance na seleção foi há quase uma década –Pedro Ladeira/Folhapress/VEJA

“Ainda acredito que posso disputar uma Copa. Veja o Thiago Silva e o Dani Alves jogando bem aos 37 e 39 anos. Mas essas coisas acontecem no tempo de Deus. Eu vivo o hoje. O resto é com Ele”, explicou.

O jogador também assumiu o erro pela forma como bateu o polêmico pênalti perdido diante do Grêmio enquanto jogador do Corinthians, que custou a eliminação da equipe paulista da Copa do Brasil. Ele negou ter sofrido agressões físicas e verbais de companheiros.

Passagem pelo Corinthians foi abaixo da crítica –Nelson Antoine / Fotoarena/VEJA

“Cheguei como um astro do futebol europeu, com um salário alto, o que já cria uma distância em um país tão desigual como o Brasil. Então a exigência da torcida era gigantesca. Quando eu perdi o pênalti contra o Grêmio nas quartas de final da Copa do Brasil, fui o único culpado”, avaliou.

“Sim, eu cometi um erro, mas não é verdade que colegas de elenco tentaram me bater. Ninguém fez nada. Mas os torcedores queriam me bater e me matar. Eu passei a andar de carro blindado em São Paulo, com seguranças armados e bombas de gás lacrimogênio. Os torcedores invadiram o CT com pedaços de pau e facas. Isso é uma loucura, algo assustador. Isso não deve ter lugar no futebol de jeito nenhum”, completou o jogador que custou cerca de 40 milhões de reais à época.

Sobre as lesões, conta que chegou a esconder uma grave torção por vergonha, se sentindo sozinho e sem rumo quando estava no Milan. Além do Internacional, que o revelou, e do clube italiano, Pato jogou por Corinthians, São Paulo, Chelsea, Villarreal, Tianjin Tianhai, da China, e Orlando City. Pela seleção fez dez gols em 28 jogos e esteve nas Olimpíadas de 2008 e 2012.

“Sim, eu não me tornei o melhor do mundo. Mas eu vou te falar uma coisa, cara. Vejo os meus pais com muito mais frequência — estamos recuperando o tempo perdido. Tenho um relacionamento maravilhoso com os meus irmãos. Estou em paz comigo mesmo. Sou um filho de Deus. Amo a Rê, a minha esposa. Do meu ponto de vista, eu tenho muitas Bolas de Ouro. Se a vida é mesmo um jogo, eu venci”, concluiu.

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