Mosquito não prejudica ninguém, mas doenças transmitidas por ele, sim, diz pesquisador


Com um exército de 110 trilhões de soldados espalhados em quase todos os cantos do mundo, o mosquito é munido de ao menos 15 armas biológicas letais e responsável pela morte de 2 milhões de pessoas, em média, desde o ano 2000.

Estas são apenas algumas das curiosidades descritas pelo pesquisador Timothy C. Winegard, doutor em história pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, no livro “O mosquito“, que chegou ao Brasil pela editora Intrínseca.

“O mosquito não prejudica ninguém diretamente. São as doenças tóxicas e altamente evoluídas transmitidas por ele que podem causar uma onda interminável de desolação e morte. Contudo, sem ele, esses patógenos sinistros não poderiam ser transmitidos ou vetorizados para humanos nem continuar seu ciclo de contaminação. Na verdade, se não fosse por ele, essas doenças jamais existiriam”, diz.

Em entrevista à CNN, Winegard faz reflexões sobre a conturbada relação entre humanos e os insetos na atualidade.

CNN: Em 1955, o Brasil erradicou o Aedes aegypti como resultado das medidas de controle da febre amarela. No final da década de 1960, o descaso com as medidas adotadas levou à reintrodução do vetor em território nacional. Perdemos a grande chance de nos livrarmos dele?

Timothy C. Winegard: Não necessariamente. Existem novas medidas de controle, incluindo bactérias e mosquitos geneticamente modificados que podem se concretizar como forma de controlar as populações de Aedes aegypti. A vacina da febre amarela, de alta eficácia, foi criada em 1937, por isso as campanhas públicas de vacinação também são uma medida de segurança totalmente segura e extremamente eficaz. Sou um historiador, não um entomologista, geneticista ou médico de medicina tropical. Meu livro é antes de tudo um livro de história sobre o impacto histórico global de patógenos transmitidos por mosquitos em eventos que mudam o jogo.

CNN: As doenças transmitidas por mosquitos são um grande problema de saúde pública no Brasil, como dengue, Zika, chikungunya e malária. Você acha que falta investimento em pesquisa científica para resolver o problema?

TW: As doenças transmitidas por mosquitos estão ganhando mais atenção da mídia e da saúde e gostaria de pensar que a Covid-19 foi um alerta para a humanidade de que nem sempre controlamos nossos ambientes e nosso próprio destino. Essas doenças são negligenciadas porque afetam principalmente países de baixa e média renda. Este é certamente um dos inúmeros problemas e complicações.

Livro “O mosquito: A incrível história do maior predador da humanidade” / Divulgação

CNN: O World Mosquito Program utiliza a bactéria Wolbachia para prevenir a transmissão da dengue pelo Aedes aegypti. Combater a doença e não necessariamente o mosquito pode ser um caminho?

TW: Sim, isso certamente tem potencial para combater a dengue, que atualmente é o patógeno transmitido por mosquitos que mais cresce no planeta. A comunidade científica está usando vários métodos para atingir os agentes causadores de doenças e as espécies selecionadas de mosquitos que atuam como vetores desses patógenos, como os anofelinos com a malária e o Aedes aegypti com seu catálogo de vírus.

Timothy C. Winegard atua como professor de história e ciência política da Colorado Mesa University / Divulgação

CNN: Quais foram nossos maiores golpes na batalha contra os mosquitos?

TW: Difícil dizer. Tudo o que tentamos até agora aparentemente foi frustrado pelo mosquito e pela maioria dos patógenos, especialmente as cinco malárias humanas.

CNN: Os impactos dos mosquitos documentados pela ciência devem ensinar alguma lição sobre a relação entre os seres humanos e o meio ambiente?

TW: Sim. Somos uma espécie guiada pela arrogância e pensamos que somos os mestres do nosso universo. Isso certamente não é verdade. Às vezes, somos nossos piores inimigos. O crescimento da população humana, as densidades, a invasão de habitats animais e o aquecimento global levam à emergência de agentes causadores de doenças como as arboviroses, a Covid-19, Ebola entre uma lista extremamente longa de microrganismos ‘transbordados’, que saltam para humanos e outros animais.

CNN: Como seria um mundo sem mosquitos?

TW: Ninguém quer ou está buscando um mundo sem mosquitos. Eles desempenham um papel fundamental nos ecossistemas e na manutenção do equilíbrio da natureza. Das cerca de 3.700 espécies de mosquitos, apenas algumas centenas são capazes, e com eficiência variável, de transmitir os microrganismos que causam doenças. Os pesquisadores estão mirando em espécies específicas que são transmissores mais letais, como o Aedes aegypti, por exemplo. O mundo precisa de mosquitos como polinizadores e na cadeia alimentar.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Mosquito não prejudica ninguém, mas doenças transmitidas por ele, sim, diz pesquisador no site CNN Brasil.