SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) – Desde que o GP da Austrália passou a ser disputado dentro de um parque em Melbourne em 1996, a corrida ficou marcada por ser o início da temporada da Fórmula 1 e também por ser uma etapa pouco movimentada, com poucas ultrapassagens.
Em 2021 e de volta após três anos, a prova australiana será a terceira etapa do Mundial e aposta em mudanças importantes na pista (e nos carros, com o novo regulamento) para acabar com essa fama.
A principal mudança é na retirada de uma das chicanes, nas curvas 9 e 10, que agora se tornaram uma sessão mais veloz, tornando a freada da curva 11 um ponto importante de ultrapassagem. Até porque ela estará no final de uma das quatro zonas de DRS. São duas as zonas de detecção, uma antes da curva 7 e outra antes da última chicane. E cada uma delas determina se o piloto pode abrir a asa móvel em duas zonas seguidas de DRS (entre as curvas 8 e 11 e na reta principal até a curva 3).
Outras mudanças também foram feitas na largura de algumas curvas, o que alonga a linha ideal dos pilotos. Isso foi feito na curva 1, 6 e na primeira perna da última chicane. Segundo os organizadores, isso quer dizer que, mesmo que a trajetória ideal tenha perdido 28 metros, a expectativa é de que as voltas sejam cinco segundos mais rápidas.
“A pista é completamente diferente, então provavelmente vou ter que aprender o traçado novamente porque mudaram algumas pistas e tudo foi reasfaltado. Será uma pista bem diferente do que estamos acostumados”, acredita Esteban Ocon, da Alpine. “Será interessante”.
Interessante e movimentado. A impressão que ficava nas corridas de Albert Park era que os pilotos até conseguiam seguir o rival de perto, mas não tinham espaço para passar nas chicanes. Isso não deve ser mais o caso. Além das mudanças na pista, o novo regulamento técnico de 2022 também vai ajudar.
Para efeito de comparação, os últimos GPs disputados na Austrália tiveram 10 ultrapassagens em 2019, cinco em 2018 e apenas uma em 2017. Nas duas primeiras etapas deste campeonato, foram registradas 58 manobras no GP do Bahrein e 31 na Arábia Saudita.
“Deve ser um circuito mais rápido e também mais fluido. Com esses carros e a maneira como estamos podendo lutar na pista, ficando perto um do outro, essas mudanças vão fazer com que as disputas sejam muito boas”, se anima o piloto da casa, Daniel Ricciardo.
Mudanças na pista e escolha dos pneus trazem desafio extra para as equipes As mudanças também podem alterar a maneira como as equipes acertam seus carros para o GP da Austrália. Como a pista era basicamente composta por chicanes e retas relativamente curtas, a pressão aerodinâmica usada era a média. Como agora há todo um setor mais rápido entre as curvas 8 e 11, é possível que os carros usam menos asa.
Isso é importante porque foi justamente a leitura da Red Bull de que seria possível ter um bom desempenho na Arábia Saudita com menos pressão aerodinâmica e, com isso, menos arrasto e mais velocidade de reta, que Max Verstappen conseguiu ultrapassar Charles Leclerc no final da prova.
Essa decisão, contudo, vai depender ainda da condição do asfalto, já que um carro que gera menos pressão aerodinâmica tende a desgastar mais os pneus. A pista de Albert Park foi totalmente recapeada, e verificar a condição do asfalto novo é uma das lições de casa das equipes nos treinos livres, que começam à meia-noite da sexta-feira pelo horário de Brasília.
Não que este seja o único obstáculo. Pela primeira vez nesta temporada, a Pirelli está trazendo à Austrália pneus C2, C3 e C5, ou seja, o mais provável é que os compostos utilizados na classificação (C5, mais macios) não sejam os mesmos da corrida. Isso é um desafio para as equipes porque não é permitido modificar o acerto entre o sábado e o domingo.
Se este novo asfalto for mais liso, será uma boa notícia para a Mercedes e outros times que estão sofrendo com as golfinhadas em alta velocidade, até porque outra marca do circuito de Albert Park era o grande número de ondulações, que só aumentavam o problema. “Não sei muito bem o que esperar da Austrália. O asfalto é novo e, na verdade, é como se fosse uma pista nova. E tomara que seja um pouco mais parecido com a Arábia Saudita, uma pista mais rápida”, acredita Lando Norris, da McLaren, carro que não vem se dando bem com as curvas de baixa velocidade.
Tantas mudanças no palco do GP da Austrália não são por acaso. A F1 estará voltando ao circuito depois de mais de 1.100 dias, embora o circo da categoria tenha sido montado em Melbourne em 2020, com a etapa sendo cancelada horas antes do primeiro treino livre devido à pandemia da covid-19.