Montevidéu fora do óbvio: dicas gastronômicas na capital uruguaia


A verdade é que as chances de abrir mais um guia de Montevidéu e encontrar as mesmas dicas são enormes. Sim, o Teatro Solís é lindo; o mercado do Porto é quase que um templo; a parrilla, conservada no tempo; e a feira Tristan Navarja que é, de fato, peculiar.

Mas Montevidéu é muito mais que isso e a melhor forma de conhecê-la é caminhando por suas ruas arborizadas de plátano, aquela árvore com as folhas parecidas com a do bordo (símbolo do Canadá), que no verão deixam as largas ruas sombreadas, no outono, douradas e, no inverno, recobertas de folhas secas.

Essa cena se repete por muitos lugares na cidade, mas gosto de indicar o bairro Pocitos, praticamente no meio da extensão da rambla, onde costumo me hospedar no 27 Suites, um apart-hotel a duas quadras da rambla, com possível vista para o Rio da Prata.

Bairro gostoso para passear a pé, com alguns restaurantes e café próximos, uma praia que pode ficar bem badalada no verão ou apenas servir de plateia para assistir ao pôr do sol dependendo em que ponta você está.

Dali também fica fácil alugar uma bicicleta e pedalar pela rambla até o bairro de Carrasco, onde, caso você tenha espírito radical, é possível praticar kitesurf ou só mesmo visitar o luxuoso Sofitel Montevideo Cassino Carrasco que, com 101 anos de idade, é considerado patrimônio nacional.

Bairro de Pocitos é ótimo para alugar bicicleta e andar por suas ruas arborizadas e em torno do Rio da Prata / Giuliana Nogueira

Ali perto come-se bem tanto no clássico Café Misterio, o badalado restaurante de 28 anos que tem uma cozinha primorosa tocada pelo proprietário Juan Pablo Clerici; quanto no vizinho mais jovem, o Manzanar Restaurant, das filhas do proprietário do já famoso La Huella, em José Ignácio.

E nada de churrasco. A parrilla está presente na maioria dos bons restaurantes, e a brasa vem para acentuar o sabor dos ingredientes e é usada de forma inteligente, cujos acompanhamentos e vegetais são tão bem trabalhados quanto as proteínas.

Demorondanga Bar tem cardápio que muda constantemente elaborado por jovens chefs / Giuliana Nogueira

E, por falar em boa cozinha, na direção oposta, partindo de Pocitos, no Cordón, está o meu queridinho (e de muita gente, porque frequentemente está lotado e com espera): o Demorondanga Bar.

Mesas altas, balcão, uma profusão de gente, uma cozinha frenética feita por jovens cozinheiros em um esquema colaborativo. O que sai dali pode mudar de um dia para o outro, mas nada nunca é menos que delicioso. São tapas em que é possível zerar facilmente o cardápio e querer voltar logo para mais uma rodada. Atenção, não aceitam cartão de crédito, e vá com tempo, com fome e leve dinheiro, porque vale muito o programa.

Torta Pascoalina da República Rotiseria / Giuliana Nogueira

Aliás, ali no Cordón, hoje um bairro quase equivalente a Pinheiros, em São Paulo, também vale a pena explorar a vizinhança a pé, pois não faltam lugares para visitar.

A livraria e cafeteria Escaramuza já é um clássico nos guias mais antenados. As novidades ficam por conta do República Rotiseria, que tem no cardápio sanduíches, tortas, bolos e, claro, empanadas. Eles produzem o próprio presunto, trabalham com pequenos produtores e têm um menu que dá vontade de provar de ponta a ponta.

Mas foco na torta pascoalina, uma releitura de um clássico, feita com massa folhada finíssima, muito espinafre e ovo de gema mole. É uma obra de arte que ganhou fama na TV e fez do lugar hypado e movimentado. 

Medialuna de jamon e queso do Atorrante Café / Giuliana Nogueira

Outra boa nova é o Atorrante Café, lugar charmoso, de cardápio enxuto e que faz uma das melhores medialunas calentitas da cidade, a versão rio-platense do croissant que leva menos manteiga e mais açúcar, aqui é servida quentinha com presunto e queijo. Pratos rápidos e café de excelente qualidade também compõem o menu.

DeGuarda, ótima loja de queijos de pequenos produtores artesanais / Giuliana Nogueira

Para os adeptos do turismo gastronômico, também vale conhecer o DeGuarda.  A loja, que começou on-line, teve sua abertura física em dezembro 2020 e segue crescendo.

Ali,você encontra queijos de qualidade excepcional elaborados por pequenos produtores artesanais. É um lugar que tem que visitar assim que botar os pés em Montevidéu já que, diferentemente dos vinhos, muitos queijos não são possíveis de serem levados para casa. Melhor consumir durante sua estada.

Se passar por lá, não deixe de pegar também um pote do maravilhoso doce de leite @silente.uy.

E, se falamos de queijo, obviamente não poderia faltar o vinho. Em Montevidéu, não faltam lugares para beber, além de vinícolas próximas que podem ser visitadas. A cidade conta com boas lojas de vinhos e wine bars. Desta vez, vou destacar somente dois lugares, embora muitos mereçam uma visita, cada um a seu estilo.

El Parral de Antonio vende vinhos de baixa intervenção de pequenos produtores locais / Giuliana Nogueira

Para quem quer conhecer um pouco mais sobre os vinhos de baixa intervenção e pequenos produtores uruguaios, já tem endereço certo. O El Parral de Antonio, em Pocitos, é um misto de loja e wine bar que faz uma bela curadoria com preciosidades difíceis de achar por aí. O ambiente lembra mais uma cafeteria dentro de uma livraria, tirando o vinho da boemia e colocando no dia a dia.

Do outro lado da cidade, na Ciudad Vieja, a boemia retorna ao charmoso Montevideo Wine Experience, cujo proprietário Nico recebe sempre com uma grande variedade de vinhos por taça, perfeito para quem quer provar um pouco de tudo e, eventualmente, acompanhar com música ao vivo.

Es Mercat, restaurante de peixes e frutos do mar / Giuliana Nogueira

Logo ali na frente em que fechamos este nosso roteiro, do outro lado da rua está o Es Mercat, um excelente restaurante de peixes e frutos do mar na cidade com um menu que também muda quase que diariamente. Se der sorte, não deixe passar o polvo e a saborosa merluza negra. 

E se depois disso tudo Montevidéu não te surpreender, pelo menos tenho certeza de que você voltará para casa muito bem alimentado.

 

Giuliana Nogueira 

Giuliana Nogueira é brasileira, psicóloga, fotógrafa e assessora de comunicação. Não é enóloga nem sommelierè. Mas é enófila, apaixonada especialmente por vinhos uruguaios e pelo Uruguai. Mantém o Instragram @Instatannat, falando mais de vinhos uruguaios que os próprios uruguaios. Sempre que pode viaja até a terra dos nossos vizinhos, que sabem receber muito bem.


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