Agenda de Sergio Moro não é democrática, diz Rodrigo Maia


Em entrevista à CNN nesta terça-feira (5), o deputado federal Rodrigo Maia (PSDB-RJ) avaliou o cenário da disputa presidencial nas eleições deste ano. Ao comentar sobre os candidatos que disputam os votos da chamada terceira via, o ex-presidente da Câmara afirmou que não considera o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) um democrata.

“O Moro eu de fato tenho muitas críticas, acho que a agenda dele não é uma agenda no campo democrático, esse é o meu ponto de vista”, disse Maia.

De acordo com o deputado, Moro não contribuiu com a democracia brasileira durante o tempo em que atuou no Judiciário, principalmente no que diz respeito às “dez medidas contra a corrupção” propostas pelo Ministério Público Federal (MPF) e defendidas pelo então juiz federal e pelo ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol.

“Eles queriam acabar com o HC [habeas corpus], eles queriam aprovar a prova ilícita de boa fé”, relembrou Maia. O parlamentar também citou casos envolvendo vazamentos revelados pelo portal The Intercept Brasil em que Moro e procuradores da Lava Jato trocavam mensagens sobre o curso da operação.

“Fora todo o processo que vimos no próprio [site] Intercept mostrando como era a forma de atuação dele, o que ele fez na eleição de 2018 vazando em cima da hora os áudios do ex-presidente Lula e fortalecendo a candidatura do presidente Bolsonaro e depois indo para o governo. Tem vários casos que podemos dizer”, afirmou.

Maia ainda assumiu que, na época em que presidia a Câmara dos Deputados, chegou a ter problemas com o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro. “O respeito ao parlamento era muito pequeno, eu tive inclusive que brigar com ele em março de 2019 dizendo para que ele me respeitasse porque eu era presidente da Câmara e que se ele tivesse algo a dizer que procurasse o presidente da República”, disse.

“Tem vários episódios, não desmereço ele, mas do meu ponto de vista, nesse campo, não considero Moro um democrata naquilo que considero um processo democrático para o nosso país”, concluiu Maia.

A assessoria de Moro, procurada pela CNN, não se pronunciou, mas disse que o posicionamento da deputada Dayane Pimentel (União-BA) representa o ex-juiz. “Corrupção e democracia não são compatíveis. É natural que qualquer político fora do objetivo de combate à corrupção negue o nome de Sergio Moro, como o deputado licenciado Rodrigo Maia, que desistiu até de se candidatar a um novo mandato. A democracia está para Moro assim como a impunidade está para seus oponentes. E é esse ciclo de imunidade na política que queremos combater”, disse Pimentel, segundo a assessoria de Moro.

Candidatura da terceira via

Recém-filiado ao PSDB, Maia se juntou aos tucanos para ajudar a coordenar o programa de governo de João Doria na candidatura à Presidência da República. No entanto, o deputado considerou que após o processo de prévias do partido, “o encaminhamento que a gente vê agora é uma loucura”.

Na avaliação do ex-presidente da Câmara, cerca de 30% dos eleitores brasileiros não têm a intenção de votar no ex-presidente Lula (PT) nem em Jair Bolsonaro (PL). Maia pontuou que nem João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) ou Eduardo Leite (PSDB) conseguirão formar uma coalização em torno de um único nome para a disputa presidencial enquanto continuarem a disputar os votos dos mesmos eleitores.

“Se nós continuarmos brigando, nem aqueles que estão legitimados por seus partidos vão conseguir chegar em algum lugar”, disse. “Não há alternativa nesse processo que não seja ou natural, ou vinda por decisão de um partido como no caso do PSDB”, completou.

Atual secretário de Projetos e Ações Estratégicas do governo de São Paulo, Maia elogiou o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, que foi derrotado por Doria nas prévias tucanas, e classificou o gaúcho como “uma das grandes figuras da nova geração e que será uma figura nacional nos próximos 20 anos”.

Já ao falar sobre Doria, de quem foi secretário, o deputado chamou o paulista de “realizador” e disse esperar que os seus números nas pesquisas de intenção de voto “cresçam bastante entre julho e agosto”.

Maia considerou que os votos do ex-juiz Sergio Moro, que recentemente se desfiliou do Podemos, partido pelo qual figurava como pré-candidato à Presidência da República, acabarão migrando uma parte para Doria e outra para Bolsonaro.

“Tem um caminho, mas temos que mostrar que temos viabilidade e que o eleitor que sonhou com um Brasil diferente em 2018 não deve olhar pro passado, não deve olhar para o PT, mas sim enxergar que a solução é olhar para um candidato que governo um Brasil moderno”, afirmou.

Lula e Bolsonaro

Ainda avaliando o cenário da disputa presidencial deste ano, Maia pontuou que Lula e Bolsonaro são “campos opostos”. “O presidente Lula é muito diferente do presidente Bolsonaro”, considerou.

Maia disse que enquanto Bolsonaro possui um amplo histórico de ataques a instituições, como o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Lula “é um democrata”.

“Lula é um político que já governou e já provou respeito às instituições, não tenho dúvida nenhuma disso”, afirmou o deputado.

Debate

CNN realizará o primeiro debate presidencial de 2022. O confronto entre os candidatos será transmitido ao vivo em 6 de agosto, pela TV e por nossas plataformas digitais.

Veja os possíveis pré-candidatos à Presidência da República em 2022

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