Futebol feminino movimenta mercado de publicidade e direitos de TV


Em franca ascensão no cenário nacional, o futebol feminino vem ganhando cada vez mais espaço nas páginas esportivas, nos noticiários diários e nas grades de programação. O “novo mercado” do futebol brasileiro vem ganhando também o apoio das principais torcidas do Brasil e do público em geral. Prova disso é a disputa que duas grandes emissoras nacionais vêm travando pelos direitos de transmissão.

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Na atual temporada, o Brasileirão Feminino conta com transmissão aberta pela TV Band, que detém os direitos da competição com exclusividade até 2023. Nos canais fechados, a Sportv, canal do grupo Globo, transmite as partidas. Porém, percebendo a evolução da popularização do futebol feminino, a Globo já buscou garantir os direitos também para TV aberta a partir de 2024.

Bruno Maia, CEO da Feel The Match e executivo de inovação no esporte, acredita que toda a movimentação feita nos últimos anos entre clubes, emissoras e patrocinadores, comprova a expansão do futebol feminino como um novo e atrativo produto no mercado midiático:

“O fato do Sportv, do grupo Globo, ter assumido o protagonismo do futebol feminino, estar transmitindo as competições, ter adicionado às suas equipes comentaristas e narradoras mulheres, tudo isso tem tido impacto muito forte positivamente no mercado. Essa movimentação da Globo e de outras emissoras só comprova o quanto o mercado se tornou atrativo, são sinais claros de que uma evolução no esporte e no mercado consumidor do futebol feminino está acontecendo e caminhando para uma consolidação”, avalia o especialista.

o Brasileirão Feminino conta com transmissão aberta pela TV BandRodrigo Corai/Divulgação

As divisões inferiores e outras modalidades, como por exemplo o futsal feminino, também estão em evidência através das plataformas de streaming (transmissões on-line). Na última temporada, o Novo Futsal Feminino contou com a transmissão da NSports, canal de streaming brasileiro que transmite mais de 3.000 eventos entre 26 modalidades. O CEO da empresa, Guilherme Figueiredo, revela que, devido aos bons resultados obtidos, a Nsports tem trabalhado para ampliar as transmissões de modalidades femininas, em especial o futebol:

“Temos trabalhado muito para ampliar as transmissões ao vivo das mais importantes competições femininas, possibilitando assim a chegada de novas receitas aos clubes e entidades. Também estamos utilizando nosso time de jornalistas e editores para criar diferentes tipos de conteúdo sobre a carreira e vida pessoal das atletas, a fim de criar uma maior identificação entre elas e o público. Tudo isso, além de conquistar o público, ajuda a atrair o mercado publicitário”, comenta.

Patricia Mayr, head de marketing da Nsports, amplia a discussão e pondera que o otimismo com as transmissões femininas não é apenas da empresa de streaming: “Temos recebido feedbacks muito positivos das ligas, times, confederações e, principalmente, das atletas. Para elas, a possibilidade de ter as suas competições transmitidas está ligada diretamente ao crescimento das modalidades e inspiração para novos talentos. Já para as ligas e confederações, nós revolucionamos a forma dos fãs acompanharem os esportes femininos no Brasil. Os fãs já sabem onde e como podem acompanhar os jogos. E essa visibilidade do esporte feminino contribui para despertar a atenção de novos investimentos e a formação de novas atletas”.

Nesta segunda-feira, 4, a Umbro, marca inglesa de uniformes esportivos, anunciou que patrocinará a primeira edição da Liga Feminina de Futsal (LFF), com início em 9 de abril. A marca britânica vestirá todas as 12 equipes da competição.

Totalmente focado no futebol feminino, o Brasil Ladies Cup, torneio amistoso realizado pela Federação Internacional de Football Soccer Society em parceria com Federação Paulista de Futebol, é outro evento da categoria que vem sendo apreciado pelo mercado publicitário. Fábio Wolff, membro do comitê organizador, revela que mais de 20 empresas investiram na primeira edição e que, para a edição deste ano, mais de 10 acordos de patrocínio já foram fechados. “A entrega do Ladies Cup ao patrocinador tem sido cada vez melhor, estamos focados cada vez mais em fortalecer e fomentar a categoria”.

Edição 2022 do Ladies Cup acontecerá em novembroMaurício Rummens/Divulgação
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Com este espaço conquistado na mídia, os clubes também já se atentam às possibilidades de novos negócios, principalmente na área de marketing, com suas equipes femininas. A ideia dos clubes é retirar o futebol feminino da sombra do masculino e, assim, tratar a modalidade como um outro produto específico, com sua própria história, seu próprio espaço e seus próprios recursos.

Jorge Avancini, vice-presidente de marketing do Internacional, cujo time ocupa a terceira colocação do Brasileirão Feminino, revela que no clube gaúcho o departamento já é desenvolvido com sua própria comunicação: “No cenário do Internacional, o futebol feminino está inserido como um dos carros-chefes da nossa produção de conteúdo, tem seu próprio plano, suas metas e temos trabalhado com muito afinco porque estamos vendo um excelente retorno”, diz.

Patrocinadora do time feminino do Atlético-MG, a Multimarcas corrobora com este pensamento. Fernando Lamounier, diretor executivo, explica como a empresa acredita e utilizada o esporte para fortalecimento de sua marca: “É um mercado em que acreditamos muito, não há toa já estamos nele há 2 anos. O futebol feminino vive um processo de evolução muito grande, é um mercado em desenvolvimento e com potencial enorme.”

CENÁRIO EM EVOLUÇÃO

Nos últimos anos a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vem estimulando o fortalecimento da modalidade, com criação de campeonatos oficiais e regras que visam o maior investimento por parte dos clubes que disputam a primeira divisão nacional. Em 2022, por exemplo, será inserido no calendário do futebol feminino mais uma competição nacional: o Brasileirão Feminino A3, uma espécie de terceira divisão.

Aline Pellegrino, coordenadora de competições femininas da CBF, comemora a estreia de mais uma divisão e acredita que o campeonato servirá para dar visibilidade e incentivar cada vez a modalidade: “A divisão A3 vai ajudar muito no aumento de mercado para as atletas. Isso incentiva o fortalecimento das categorias de base e ajuda a categoria a se desenvolver”.

Já desenvolvendo um trabalho consistente no time masculino, que vai para sua terceira temporada consecutiva na primeira divisão e para a sua primeira disputa continental da história, o Cuiabá é um dos clubes que estará envolvido na disputa do Feminino A3. O projeto com a modalidade feminina foi iniciada na última temporada e agora com o calendário cheio, o vice-presidente do Dourado, Cristiano Dresch, acredita que a tendência é aumentar o investimento no time feminino:

“O futebol feminino está crescendo muito e vai crescer muito mais nos próximos anos, falo isso em âmbito nacional. Tem muitas equipes no Brasil todo aumentando os seus investimentos e apostando na categoria, nós não somos diferentes. Este ano a equipe já vai ter calendário cheio e, com isso, vamos aumentando o nosso investimento nos próximos anos para deixar o time cada vez mais competitivo”, pondera Dresch.

Leoas, que disputam em 2022 o Brasileirão Feminino A2 e o Campeonato CearenseSamuel Andrade/Fortaleza/Instagram

O Fortaleza é outra equipe de Série A que desenvolve um trabalho de reestruturação para alavancar a modalidade. Recentemente, o Tricolor contratou a gestora Anna Beatriz para comandar o departamento e realizou uma série de melhorias estruturais para atender o time das Leoas, que disputam em 2022 o Brasileirão Feminino A2 e o Campeonato Cearense.

“Estabelecemos uma sala para a nossa comissão técnica e nossa gestão de futebol trabalharem, ajustamos o alojamento e transporte para as meninas do time e estamos procurando reforçar o nosso trabalho com suporte pedagógico e apoio psicólogico disponibilizado no próprio CT, além de academia, piscina para recuperação, suporte da equipe médica, fisioterapeuta e massagista para potencializar as atletas”, explica Anna.

Com a chegada da A3 nesta temporada, o número de equipes femininas filiadas à CBF para disputas oficiais salta de 54 para 62. 16 delas atuam na primeira divisão, 36 na segunda divisão e, a partir deste ano, mais 32 equipes na terceira divisão.

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