Morre a escritora Lygia Fagundes Telles, acadêmica da ABL, aos 98 anos


A escritora Lygia Fagundes Telles morreu, neste domingo (3), aos 98 anos, em São Paulo. Segundo a Academia Paulista de Letras, a autora faleceu por causas naturais, em casa, na região dos Jardins, na capital paulista.

A integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL), eleita em outubro de 1985, nasceu em São Paulo e passou a infância no interior do estado. Desde a adolescência, a vocação pela literatura teve o incentivo de amigos como os escritores Carlos Drummond de Andrade e Erico Verissimo.

Lygia publicou seu primeiro livro de contos, de nome “Porões e sobrados”, em 1938. A autora recebeu prêmios como o Jabuti e Camões, em 1977, durante a ditadura militar.

Uma das obras mais conhecidas da autora é Ciranda de Pedra, de 1954. Ainda nos anos 1950, publicou o livro Histórias do Desencontro (1958), que recebeu o Prêmio do Instituto Nacional do Livro.

O segundo romance Verão no Aquário, que recebeu o Prêmio Jabuti, foi publicado em 1963. Em parceria com o crítico de cinema Paulo Emílio Sales Gomes, com quem foi casada, ela escreveu o roteiro para cinema Capitu (1967) baseado em Dom Casmurro, de Machado de Assis.

Na década de 1970, Lygia publicou alguns de seus livros mais marcantes: Antes do Baile Verde (1970) recebeu o Primeiro Prêmio no Concurso Internacional de Escritoras, na França. O romance As Meninas (1973) recebeu os Prêmios Jabuti, Coelho Neto da Academia Brasileira de Letras e “Ficção” da Associação Paulista de Críticos de Arte. Seminário dos Ratos (1977) foi premiado pelo PEN Clube do Brasil.

O duro ofício de testemunhar um planeta enfermo nesta virada do século. Às vezes, o medo. (…) Mas o escritor precisa se ver e ver o próximo na transparência da água. Tem de vencer o medo para escrever esse medo. E resgatar a palavra através do amor, a palavra que permanece como a negação da morte

Lygia Fagundes Telles, em discurso de posse da ABL

O livro A Disciplina do Amor (1980) recebeu o Prêmio Jabuti e o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte. Já o romance As Horas Nuas (1989) recebeu o Prêmio Pedro Nava de Melhor Livro do Ano.

Na década seguinte, foi publicada a obra A Noite Escura e Mais Eu (1995), que recebeu o Prêmio Arthur Azevedo da Biblioteca Nacional, o Prêmio Jabuti e o Prêmio APLUB de Literatura. Dez anos depois, Lygia foi contemplada com o Prêmio Camões, distinção maior em língua portuguesa pelo conjunto de obra.

Do filho Goffredo da Silva Telles Neto, do primeiro casamento de Lygia, vieram as duas netas, Margarida e Lúcia, mãe da bisneta Marina.

Luto na literatura

Nota da Academia Paulista de Letras, assinada pelo presidente José Renato Nalini, destaca Lygia como “a mais notável personalidade da literatura brasileira, patriota e democrata, já era lenda em vida”.

“Permanecerá no Panteão das glórias universais e, para orgulho nosso, era mais academicamente bandeirante. Não faltava aos nossos encontros semanais no Arouche. A gigantesca e exuberante obra continuará a ser revisitada, enquanto houver leitor no mundo”, diz a nota.

A Academia Brasileira de Letras (ABL) publicou uma homenagem de pesar no Instagram. Em nota, a ABL afirmou que Lygia “é considerada uma das grandes referências no pós-modernismo, tendo escrito obras que abordam temas diversos, como a morte, o amor, o medo e a loucura, além da fantasia”.

(Com informações de Beatriz Puente, da CNN, e da Academia Brasileira de Letras)

Este conteúdo foi originalmente publicado em Morre a escritora Lygia Fagundes Telles, acadêmica da ABL, aos 98 anos no site CNN Brasil.