Em Petrópolis, reservas despencam mesmo em distritos não afetados pela tragédia


Os telefones não param de tocar nos hotéis e pousadas de Itaipava: são ligações de clientes com reservas para o Carnaval e para os próximos finais de semana, que pedem o cancelamento da estada. Localizado a 15 quilômetros do Centro Histórico de Petrópolis, epicentro da tragédia que deixou mais de 180 mortos, o distrito não sofreu danos além de uma típica chuva de verão.

Mesmo assim, a taxa de ocupação para o período despencou dos 70% para 35%, e pode cair ainda mais nos próximos dias. Sem atrativos históricos como os que existem em profusão na área devastada pela tragédia, Itaipava é mais conhecida pela boa mesa e pelo clima de serra, que a transforma em destino romântico para os casais e destino de exposições.

A região concentra a maior parte dos hotéis e pousadas da cidade. De acordo com o Sindicato de Meios de Hospedagem e Restaurantes (SindiPetrópolis), a Cidade Imperial conta com 117 hotéis e pousadas, que somam 2.349 quartos. Uma oferta que costuma alcançar 90% de ocupação durante os carnavais, e que, no Centro Histórico, está próximo de zero, como explica Germano Valente, presidente da entidade.

“Petrópolis é o refúgio do carioca que quer fugir do agito, que não quer saber de bloco e de confusão. Não há o que fazer no Centro Histórico, é necessário aguardar a recuperação de estabelecimentos e dos equipamentos culturais. Mas, em Itaipava, não. Quem quiser ajudar Petrópolis não deve cancelar as reservas. Deve manter as visitas e ajudar a fazer a cidade girar”, afirma Valente.

Ex-secretário municipal de Turismo, com passagem pela presidência do Petrópolis Convention & Visitors Bureau, Samir El Ghaoui é dono de dois hotéis na cidade. Ele confirma que, de fato, viu as reservas para o período despencarem. “Na cabeça do turista, Petrópolis é uma só. Por mais que os impactos tenham sido pequenos em Itaipava e Correias e outras localidades, os cancelamentos persistem”, explica.

De acordo com o sindicato, a cidade abriga ainda cerca de 300 bares e restaurantes, a maior parte deles em Itaipava. Esse é também o número estimado de lojas diretamente afetadas pela enxurrada e pelos deslizamentos. No entanto, o empresário entende que os perfis de recuperação dos negócios são diferentes, e que o turismo pode liderar a recuperação econômica de Petrópolis.

“O turismo gera uma demanda que movimenta a cidade. Em 2011, o comércio ficou muito parado quando não havia visitantes, o movimento era muito pequeno. No caso de bares, restaurantes e de hotéis, por mais que haja danos, o principal patrimônio é a estrutura. Não é como as lojas que perdem áreas de venda, exposição ou estoques inteiros que precisam ser repostos”, avalia.

O que pode contribuir para agilizar essa recuperação é o fato de que nenhum dos históricos atrativos turísticos da cidade tenha sofrido danos graves. Famoso obrigar os visitantes a calçar pantufas, para preservar o histórico assoalho do palácio, o Museu Imperial, que abriga as coroas imperiais de Dom Pedro I e Dom Pedro II, teve estrutura e acervo completamente preservados. As chuvas só afetaram nos jardins, onde houve acúmulo de lama.

Historicamente, o local é o ponto turístico mais procurado da cidade, com média de 300 mil visitantes por ano, segundo números do Observatório do Turismo. Em seguida, está a Catedral São Pedro de Alcântara, uma das poucas do país em estilo neogótico. Esse é o mesmo número de visitantes do Palácio de Cristal, outro símbolo da cidade, construído no fim do século XIX por encomenda do Conde d’Eu, marido da princesa Isabel. O equipamento cultural está fechado para obras desde 2019.

Fotos – Impactos das chuvas em Petrópolis

Em outro endereço importante para o casal, a Casa da Princesa Isabel, uma grade e um muro forram derrubados pela enchente. Já o Palácio Rio Negro, antiga residência de férias dos presidentes, até o mandato de Costa e Silva (1967-1969), o primeiro pavimento foi alagado, mas não houve danos ao acervo.

Enquanto os hotéis que não foram atingidos pelas enchentes ajudam a cidade a lidar com os efeitos da tragédia, os empresários esperam a limpeza das ruas, a recuperação dos equipamentos históricos, de pontos turísticos e o restabelecimento de energia elétrica em toda cidade. Isto para que, nas próximas semanas, a campanha Abrace Petrópolis avance para um novo estágio, no qual os fluminenses serão convidados a voltar à cidade.

“Estamos em uma primeira fase, que é ajudar a cidade a se organizar e retomar as atividades. Precisamos evitar que essa tragédia tenha efeitos prolongados e a tragédia social se agrave. Atualmente, meios de hospedagem, bares e restaurantes são responsáveis por 4,5 mil empregos. Precisaremos de uma grande campanha para abraçar Petrópolis novamente, para sairmos desta situação”, avalia Valente.

Filho de libaneses, El Ghaoui está otimista. O vice-presidente do Conselho Municipal de Turismo lembra a tragédia enfrentada pelo país, onde, em agosto de 2020, uma explosão de nitrato de amônio em um armazém do porto de Beirute deixou um saldo de 2018 mortos, e os esforços para reconstrução da cidade. Esforços semelhantes aos que ele viu em Petrópolis nas enchentes anteriores.

“A cidade é forte e vai ressurgir depois de tudo isto, eu acredito. Será necessário muito esforço, mas tenho certeza de que chegaremos lá”, confia.

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