O sol nasce e ficamos frente a frente de uma manada de mais de 50 elefantes que atravessam a estrada rumo a um lago. Leões passam calmamente do lado do carro aberto que nos conduz pelo passeio de observação. Zebras e girafas ficam espalhadas pelo gramado das planícies, onde a paisagem exuberante fica completa com as grandes montanhas no horizonte.
Assim é o Parque Nacional de Akagera em Ruanda, pequeno país no centro-leste da África que foi escolhido como o primeiro destino da terceira temporada do CNN Viagem & Gastronomia, que vai ao ar neste sábado (29). Pouco menor que o estado de Alagoas, Ruanda nos reserva paisagens espetaculares, um terreno montanhoso e muitos ensinamentos: visitar o país é contribuir não somente com o desenvolvimento da infraestrutura turística e com a conservação, mas também ajudar a beneficiar as comunidades de seu entorno.
Muito se fala sobre a preservação dos animais explorados ou em extinção, mas aqui, tanto em Ruanda quanto no parque Akagera, podemos notar uma camada a mais – um modelo turístico que abraça também as pessoas ao redor. Só estando lá para presenciar essas ferramentas e compreender a fundo nosso papel em meio à conservação e à geração de recursos benéficos a todos.
Com isso, você é meu convidado para percorrer alguns dos cantos mais especiais – e espetaculares – deste país de cultura e natureza abundantes. Durante a viagem realizei safáris de dia e de noite, em carros 4×4 ou ainda de barco, experiências emocionantes que transformaram minha visão em relação ao respeito com o reino animal e também com as pessoas que ajudam na preservação.
Este misto de safári de observação – em que podemos avistar até os famosos “Big Five” da África – e a vivência de dormir e acordar dentro do Parque Nacional de Akagera em seus lodges e camping, sentindo sua energia e presenciando o minucioso trabalho de perto, faz com que Ruanda seja um dos locais mais especiais de serem visitados no mundo. Todos prontos? Apertem os cintos e embarquem nesta viagem comigo!
O Parque Nacional de Akagera
Situado no leste de Ruanda, o cativante parque faz fronteira com a Tanzânia e por ali podemos avistar os almejados “Big Five” – grupo de mamíferos que eram considerados os mais difíceis de serem caçados, composto pelo leão, leopardo, rinoceronte, búfalo e o elefante. É surreal poder estar tão perto deles aqui ao mesmo tempo que ajudamos a preservá-los.
Com cerca de 1.122 km² de área protegida, o coração do Akagera fica a cerca de três horas da capital Kigali e corresponde à maior zona de pântano da África Central, onde suas planícies abrangem savanas, bosques, zonas úmidas e lagos. A paisagem é linda: planícies enormes à nossa frente com a junção das montanhas ao fundo.
Existente desde 1934, foi apenas a partir de 2010 que sua trajetória começou a florescer. Foi naquele ano que a African Parks, organização de conservação sem fins lucrativos, assumiu a gestão do Akagera em parceria com o Conselho de Desenvolvimento de Ruanda, o que levou prosperidade e esperança às espécies e às comunidades ao redor.
De acordo com a organização, mais de 30 mil cabeças de gado viviam no parque, o que ajudou a devastar a paisagem. Com aplicação da lei e esforços comunitários, a caça predatória foi eliminada em cinco anos e o número de animais selvagens cresceu de cerca de 5 mil em 2010 para mais de 13 mil em anos mais recentes.
Interessante ressaltar que, antes, os “Big Five” não eram vistos por ali, mas hoje já é lar novamente de todos os mamíferos deste grupo: houve a reintrodução de sete leões no parque em 2015 – que se reproduziram e dobraram de número em um ano – e também a inserção de 18 rinocerontes negros em 2017 e outros cinco em 2019.
Atualmente, segundo informações da própria African Parks, o Akagera auxilia aproximadamente 300 mil pessoas que vivem no entorno de seus limites, as quais se beneficiam diretamente da existência do parque.
Observação dos animais
Ainda que Ruanda não seja o destino preferido para quem vai ao continente africano em busca de um safári, o Akagera nos surpreende com sua vegetação e diversidade de espécies. Além dos “Big Five”, podemos ver girafas, zebras, antílopes, crocodilos, centenas de diferentes espécies de aves e muitos outros bem pertinho do carro.
Já dentro dos limites do parque, uma das primeiras coisas que avistei foi a grande estrutura óssea da mandíbula de um hipopótamo no gramado. É impactante ver seu tamanho e relembrar que também dividimos a Terra com estes seres magníficos. E, quando estamos por aqui, é importante saber que podemos ser surpreendidos a qualquer momento: fomos avisados que em uma planície próxima havia uma manada de 50 a 60 elefantes e, claro, fomos conferir.
Não é tão fácil encontrar elefantes pois eles podem andar até 100 km por dia em busca de água, mas lá estavam eles! É um misto de emoção e felicidade vê-los tão de perto, uma sensação que não se compara a outra coisa no mundo. Observá-los bem próximos de você é de arrepiar – e de desejar ficar horas apreciando seus movimentos.
Porém, uma mistura de medo e fascínio também tomou conta de mim: quando uma mãe elefante fica cara a cara com nosso carro, é sinal de que devemos respeitá-la e darmos o espaço à sua família. Não há sinais de agressividade em sua linguagem corporal, apenas uma reivindicação de seu território.
É muito importante não bloquearmos a passagem dos animais, pois assim não se sentem como se estivéssemos os prendendo. Sempre quando há um bebê por perto, por exemplo, os elefantes param e também nos encaram para demandar seu espaço. Falando em bebês, tivemos sorte de avistar um pequeno elefante que tinha por volta de dois a três meses de vida. Em boas condições de alimentação e acesso a água e espaço, como aqui, estes mamíferos chegam a viver até 60 anos.
Presenciei outro momento curioso: dois machos brigando entre si para ver quem era o dominante. Já próximos de um lago, é impressionante vê-los bebendo água e tomando banho lado a lado das cabeças de hipopótamos imersos.
Mas não foram apenas os elefantes que se aproximaram de nós: com sua juba, rabo e corpo longo, leões passaram em nossa frente de forma lenta, com passos tranquilos, e dois irmãos brincavam ao fundo. Aqui estes felinos são encontrados na grande planície de Mohana, a maior e mais popular planície de todo o parque.
Dada a nossa proximidade com estes grandes animais, a orientação é não fazer movimentos bruscos: além de doses altas de adrenalina, a sensação de estar bem ao lado deles sem nenhum tipo de barreira é, no mínimo, marcante.
Passeios de barco e observação noturna
Com sua grandiosidade e diversidade, podemos também realizar o safári a bordo de um barco em um dos lagos da região. Um deles é o Lago Ihema, maior de Ruanda e onde há uma concentração de hipopótamos submersos que saem para respirar a cada cinco minutos.
Crocodilos, aves e outros grandes animais que chegam à beira do lago para beber água também marcam presença. É uma perspectiva totalmente diferente de observá-los a partir das águas – e que recomendo muito – do que dentro de um carro 4×4.
E engana-se quem pensa que a observação é feita apenas durante o dia. Quando o sol se põe, um outro tipo de passeio toma conta: o de observar animais que possuem um comportamento mais noturno, como os próprios leões, leopardos, hienas, corujas e até algumas aves noturnas. Em um dia tivemos sorte de avistar um leopardo fêmea, linda entre a vegetação com suas pintas, e no outro dia apreciamos a austeridade de uma leoa que estava prestes a caçar seu alimento.
Safári é isso: uma mistura de um bom guia, uma boa região e também uma boa pitada de sorte!
Atrações e serviços
Além dos diferentes tipos de safári de observação, outras atividades são realizadas no Akagera devido à sua abundância de fauna e flora. Uma destas atrações é o famoso birdwatching, ou seja, a observação de pássaros, que traz aqui turistas, cientistas e curiosos atrás das belezas das cerca de 500 espécies de aves.
Pesca esportiva no Lago Shakani, tour pelos “bastidores” da sede do parque, checagem de uma parte das cercas do território até as colinas – com vistas encantadoras lá do alto – e experiências com os produtos das comunidades locais são outras atividades possíveis de serem vividas aqui.
Mas atenção: a única maneira de se percorrer o parque é por meio de um carro, seja veículo próprio ou de uma operadora de turismo – o parque também dispõe de veículos para alugar. Uma vez aqui, recomendo os serviços de um guia, já que com ele é possível obter uma compreensão mais aprofundada sobre os animais, sobre a geografia local e manter a calma quando um leão ou um elefante chegam muito perto de nós.
Para adentrar o parque é necessário pagar uma taxa, que varia de acordo com a nacionalidade: ruandeses pagam US$ 15, enquanto turistas internacionais pagam US$ 100, além das taxas da entrada dos carros que vêm de fora.
Vale frisar que o parque fica aberto o ano todo, mas é durante a longa estação seca, entre junho e setembro, que o território parece ficar mais vivo. Com paisagens secas e empoeiradas, é neste período que a grama fica mais curta e os animais ficam espalhados por todo o território em razão da água abundante nos lagos.
Caso seja adepto da observação de aves, a curta estação molhada, que dura entre outubro e novembro, é a mais indicada por ser um período em que muitas aves migratórias passam pelo parque.
Magashi Camp: tendas luxuosas na savana
Na vastidão do território, passar a noite no parque é possível graças às acomodações construídas aos visitantes. São diferentes tipos de alojamentos, como tendas, acampamentos e camping, mas um deles chama a atenção: o Magashi Camp, hotel luxuoso em meio à savana.
Localizado no nordeste do parque, a cerca de quatro horas da capital Kigali, o Magashi fica bem em frente ao Lago Rwanyakazinga, onde o acampamento requintado desfruta de vistas privilegiadas de suas águas. Logo na entrada somos recebidos pelos funcionários com cantos tradicionais de boas-vindas e bebidas refrescantes, como um suco de tomate bem doce – uma forma de nos sentirmos ainda mais acolhidos.
Ao todo são apenas seis grandes e sofisticadas tendas para hóspedes, com camas confortáveis, vista para o lago e comodidades que nos fazem ter uma conexão ainda maior com o parque – afinal, estamos no meio de uma área protegida da África rodeados dos maiores e mais impressionantes animais do mundo.
Os quartos não possuem paredes, o que aumenta a sensação de estarmos em uma tenda no meio da savana, assim como o hotel é todo de palafita, para que não haja nenhuma interferência mais dura da natureza. As áreas comuns abrangem um requintado lounge, bar, salão de jantar, piscina e um grande deck com uma fogueira.
Além de podermos contemplar a movimentação da vida animal e a natureza do próprio quarto ou deck – que por si só já é uma das maiores atrações por aqui -, o Magashi também oferece passeios conhecidos do parque, como safáris de observação de dia, de noite ou a bordo de um barco, assim como pesca e birdwatching.
Depois de uma manhã apreciando os animais no safári, nada melhor do que terminar o dia na piscina com uma taça de vinho sul-africano em mãos enquanto observamos os vários hipopótamos no lago e nos preparamos para a próxima aventura.
À noite, antes de ir ao quarto, a fogueira é o local ideal para ouvir com calma os sons da natureza. É definitivamente uma viagem única na vida que mexe com nossos sentidos e convicções.
The post Entre leões e elefantes: um safári pelas planícies alagadas de Ruanda appeared first on CNN Brasil V&G.