Vestido icônico usado por Marilyn Monroe em filme quase não existiu


Lembra quando a dançarina Lorelei Lee deixou o noivo estupefato quando ela surgiu no palco em um vestido de cetim rosa, coberta por diamantes, no filme “Os Homens Preferem as Loiras”?

Lee, interpretada por Marilyn Monroe, então se lança em um número musical onde ela canta “os diamantes são os melhores amigos de uma mulher” – uma cena amplamente imitada nas décadas seguintes, desde Madonna, com o clipe “Material Girl”, até Margot Robbie, com o filme “Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa”.

Igualmente inesquecível foi o vestido tomara que caia de Monroe. Envolvendo o corpo, combinado com as luvas e amarrado com um laço gigante rosa, o visual se tornou um dos mais icônicos de Hollywood após o lançamento do filme, em 1953.

Mas a roupa era, de fato, uma alternativa de última hora. O traje original – e muito mais revelador – foi abandonado por causa de um escândalo envolvendo fotos da atriz nua.

Quatro anos antes, Monroe, então uma atriz desconhecida, posou nua para uma sessão de fotos, ganhando apenas US$ 50 por uma série de imagens que, mais tarde, seriam usadas em um calendário. Tiradas pelo popular fotógrafo Tom Kelley, as fotos mostravam a Marilyn deitada artisticamente em lençóis de veludo vermelho, com o rosto inclinado para a câmera, braços estendidos e dedos dos pés esticados, criando belas linhas.

Na nova série documental de quatro partes da CNN Internacional, “Reframed: Marilyn Monroe”, Monroe diz que Kelley garantiu que ninguém a reconheceria. No entanto, não havia dúvidas de seus cachos loiros penteados e os lábios vermelhos nas fotos ardentes.

Quando o calendário surgiu em 1952, o perfil de Monroe em Hollywood tinha começado a desabrochar. Ela logo foi identificada como a modelo nua, provocando reação na conservadora América dos anos 1950 e lançando uma atenção pouco lisonjeira sobre a estrela em ascensão. Mas Monroe superou o incidente e até ganhou simpatia por sua honestidade inabalável.

O esboço original para o visual icônico de Monroe desenhado por Travilla / William Travilla/Public Domain

“Alguns anos atrás, quando eu não tinha dinheiro para comida ou aluguel, um fotógrafo que eu conhecia me pediu para posar nua para um calendário de arte”, disse ela à repórter Aline Mosby, da United Press International.

O estúdio 20th Century Fox, que lançaria “Os Homens Preferem as Loiras” no ano seguinte, pediu a ela que negasse que fosse ela. Mas ela recusou, explicando a Mosby: “Ah, o calendário está pendurado em todas as oficinas mecânicas da cidade. Por que negar? Você pode conseguir um em qualquer lugar. Além do mais, não tenho vergonha disso. Não fiz nada de errado”.

Ao possuir as fotos, ela conseguiu controlar a narrativa – e sua imagem pública – diante daqueles que tentavam envergonhá-la.

“O escândalo do calendário nu realmente a colocou na vanguarda da revolução sexual”, diz a professora de literatura americana, Sarah Churchwell, na série documental.

Polêmica de última hora

O figurinista William “Billy” Travilla, que trabalhou com Monroe em 11 filmes, incluindo “Os Homens Preferem as Loiras”, disse à rede de TV a cabo A&E que as fotos deixaram o estúdio “selvagem”. Executivos temiam que as imagens pudessem arruinar a carreira de Monroe e que os investidores do filme pudessem desistir.

Inicialmente, Travilla recebeu a tarefa de criar a mulher “mais sexy, excitante e quase nua na telona” – um visual muito diferente do agora icônico vestido rosa de cetim.

“A fantasia era uma meia arrastão sobre seu corpo nu”, disse ele à A&E. “Os seios e a linha do quadril (foram) cobertos com diamantes montados por um joalheiro. E, assim que estávamos prontos para filmar o número, tudo deu errado. (Uma reimpressão do) calendário nu de Marilyn Monroe tinha chegado ao mercado”.

Embora Monroe nunca tenha sido filmada usando a roupa original, existem raras fotografias de teste dela usando o traje. Travilla disse que foi instruído a “jogar a roupa fora” por produtores que temiam “perder toda a bilheteria do filme”. A figurinista então desenhou o vestido rosa, ou um “vestido muito coberto”, como uma alternativa mais segura.

No entanto, as preocupações do estúdio sobre as fotografias da atriz nua foram dissipadas quando o filme arrecadou US$ 5,3 milhões nas bilheterias, catapultando Monroe ao estrelato total.

Outro filme estrelado por Monroe, “Como Agarrar um Milionário”, foi lançado no mesmo ano, arrecadando mais US$ 8 milhões. Como o autor Aubrey Solomon escreveu em sua biografia da 20th Century Fox, “em 1953, os dois maiores ativos da Fox eram CinemaScope e Marilyn Monroe, nessa ordem”.

Monroe, ironicamente, recebeu apenas US$ 500 por semana pelo filme “Os Homens Preferem as Loiras”, revelou ela na entrevista final à “Life Magazine”, em 1962, enquanto a coestrela Jane Russell ganhou US$ 200 mil.

Subvertendo clichês de ‘loira burra’

Embora tenha sido apenas a segunda escolha, o vestido rosa se tornou um fenômeno da cultura pop, sendo vendido por US$ 310 mil em um leilão de recordações de Hollywood, em 2010.

Celebridades também prestaram homenagem à roupa e à música que roubam a cena. Algumas enfatizaram as alusões óbvias do número ao materialismo, como o clipe de Madonna, de 1985, para a música “Material Girl”, enquanto outros o transformaram em um hino para o empoderamento feminino, como Megan Thee Stallion e Normani fizeram na música “Diamonds”.

As cantoras Ariana Grande, Camilla Cabello e Kylie Minogue usaram réplicas do vestido para várias apresentações, enquanto James Franco até usou uma versão dele como coapresentador do Oscar, em 2011.

James Franco apresentando o Oscar, em 2011, ao lado de Anne Hathaway / Getty Images

E filmes como “Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa” (2020) e “Moulin Rouge” (2001) ofereceram referências mais sombrias à cena, com protagonistas femininas lutando para garantir seu lugar nas sociedades patriarcais.

Em “Aves de Rapina…”, o vestido é reimaginado como um macacão usado por Arlequina (Margot Robbie), enquanto ela alucina uma versão misteriosa da famosa cena durante um interrogatório violento com o senhor do crime Roman Sionis (Ewan McGregor). Sionis subestima muito Arlequina como uma “loira burra”, o que prova ser sua eventual ruína.

Astutamente navegando em sua carreira, a própria Marilyn Monroe era tudo, menos uma “loira burra” – como ela demonstrou ao lidar com o escândalo das fotos nuas. Em “Reframed: Marilyn Monroe”, Churchwell aponta para uma frase improvisada que Monroe criou para sua personagem, Lorelei Lee, e insistiu em usar: “Eu posso ser inteligente quando é importante, mas a maioria dos homens não gosta disso”.

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