Primeira convocação da Seleção Brasileira no ano indica a necessidade urgente de reflexão e cautela


Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Tite para os jogos contra Equador e Paraguai pelas Eliminatórias da Copa do Mundo

Quem acompanha o espaço aqui no TORCEDORES.COM já viu este que escreve criticar algumas das escolhas de Tite com relação a nomes convocados, formações táticas e afins. Eu e você podemos (e devemos) discordar da presença deste ou daquele jogador. Por outro lado, precisamos reconhecer que a lista de convocados para os jogos da Seleção Brasileira contra Equador (dia 27 de janeiro, em Quito) e Paraguai (dia 1º de fevereiro, em Belo Horizonte) tem sim sua coerência dentro da linha de trabalho do treinador. E a primeira convocação do ano também nos traz a necessidade de analisarmos as coisas com mais cautela com algumas críticas mais exaltadas e refletir mais sobre aquilo que falamos não somente da Seleção Brasileira, mas de todo e qualquer clube ou selecionado deste mundão de meu Deus. Além disso, estamos falando da PRIMEIRA CONVOCAÇÃO DO ANO, não é? Vamos com calma.

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É possível afirmar que, se a Copa do Mundo fosse ser realizada entre os meses de junho e julho, os nomes escolhidos por Tite seriam muito diferentes de todos aqueles que foram divulgados nesta quinta-feira (13). Por mais que não se concorde com os métodos do treinador da Seleção Brasileira, há uma linha de pensamento sendo seguida em todo esse ciclo e é nela que devemos basear nossas críticas sobre esta ou aquela escolha. Falar em “cadeira cativa”, em “panela” e outros termos impublicáveis aqui neste espaço só reforça a tese de que muitos de nós comentamos e analisamos com o fígado e não com a cabeça. Mais do que nunca, é preciso entender o que se passa na cabeça do treinador.

É verdade que nomes como Daniel Alves, Everton Ribeiro, Philippe Coutinho e Gabriel Jesus não foram bem digeridos e aceitos por vários profissionais de imprensa e boa parte da torcida brasileira. Estes entendem que há jogadores em melhores condições do que os citados anteriormente e que Tite poderia aproveitar as últimas rodadas das Eliminatórias da Copa do Mundo para fazer testes mais profundos na sua equipe. Mas será que apenas isso é suficiente para preencher as lacunas na Seleção Brasileira?

Fato é que Tite tem uma base já formada no escrete canarinho. Por mais que o futebol apresentado em campo não seja dos melhores e dos mais empolgantes, a equipe se mostrou extremamente competitiva e se consolidou como uma das melhores (se não a melhor) do continente sul-americano. E se a falta de testes contra seleções europeias atrapalha um pouco o julgamento sobre o desempenho da equipe, difícil não ver França, Portugal, Itália, Alemanha, Inglaterra, Bélgica e outras equipes do primeiro escalão mundial em situação semelhante. Mais do que nunca, a falta de interação entre Europa e América do Sul prejudica todo mundo que está se preparando em alto nível para encarar o Mundial do Catar no final do ano.

Diante disso, é preciso entender que, apesar da base formada e do estilo bem característico de jogo, a Seleção Brasileira ainda possui lacunas que não foram preenchidas. A principal delas está na falta de um meia-armador para dividir a responsabilidade da criação as jogadas com Neymar. Lucas Paquetá (que poderia ser esse nome) foi jogar aberto pela esquerda com Gabriel Jesus formando dupla de ataque com o camisa 10. Ao mesmo tempo, Raphinha ocupou o espaço na ponta-direita. Essa foi a formação da goleada sobre o Uruguai, jogo em que a Seleção teve a sua melhor atuação coletiva em 2021.

Contra o Uruguai, Raphinha e Lucas Paquetá jogaram pelos lados do campo e Neymar dividiu o comando de ataque com Gabriel Jesus. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL

Dentro desse cenário, ainda existe a necessidade de se encontrar um lugar para Vinícius Júnior na Seleção Brasileira. O atacante do Real Madrid tem se destacado bastante na temporada com muitos gols, boas assistências e grandes atuações nas principais competições do Velho Continente. Contra a Argentina (também em jogo válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo), Vini Jr foi utilizado como uma espécie de segundo atacante ao lado de Matheus Cunha. Ao invés de fechar o lado esquerdo como um ponta, ele permanecia mais solto buscando o espaço às costas dos laterais portenhos. Apesar dos gols perdidos, Vinícius Júnior teve boa atuação e não se escondeu do jogo.

Por outro lado, é preciso lembrar que a Seleção Brasileira entrou em campo sem Neymar e que Tite usou Lucas Paquetá como principal meia-armador da sua equipe (ao lado de Fred e Fabinho no meio-campo). Por mais que o escrete canarinho tenha criado oportunidades de gol e tenha se saído muito bem defensivamente, fica a dúvida sobre o encaixe de Vinícius Júnior quando Neymar se recuperar de lesão. Quem sai do time? Raphinha? Matheus Cunha? A Seleção vai jogar sem um “nove” de referência?

Já no empate contra a Argentina, Tite apostou em Vinícius Júnior ao lado de Matheus Cunha com Lucas Paquetá e Raphinha completando o ataque. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL

E ainda temos a questão da lateral-direita. Este que escreve acha muito difícil que Danilo não esteja no grupo que irá disputar a próxima Copa do Mundo. Além de ser extremamente regular, ele se encaixa nas características exigidas pelo modelo de jogo escolhido por Tite. Emerson Royal (titular contra o Uruguai) vem crescendo com Antonio Conte no Tottenham e surge como boa opção num papel mais ofensivo caso seja necessário. O grande X da questão está em Daniel Alves, jogador que muitos ainda gostariam de ver jogando mais um Mundial com a Seleção Brasileira. Além da idade avançada para a posição (39 anos), o jogador do Barcelona já não entrega mais o mesmo nível de excelência dos últimos anos.

A sua atuação no clássico contra o Real Madrid (em jogo válido pela Supercopa da Espanha) deixou este colunista preocupado com relação ao seu posicionamento numa linha de quatro defensores pelo lado do campo. Isso porque o Daniel Alves sofreu para acompanhar Vinícius Júnior nos contra-ataques merengues e para fechar seu espaço. Por mais que a Seleção Brasileira de Tite seja muito mais organizada defensivamente, as condições físicas do veterano deixam alguns asteriscos na sua convocação.

Daniel Alves sofreu para fechar seu espaço na linha de quatro defensores do Barcelona e para conter os avanços de Vinícius Júnior pelo seu lado. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

Conforme escrito anteriormente, é possível falar muita coisa sobre as escolhas de Tite e sobre seus métodos de trabalho na Seleção Brasileira. Mas é preciso reconhecer que, mesmo irritando muita gente e gerando todo tipo de reclamações, ela ainda segue uma linha de trabalho coerente e bem definida. Já se sabe que boa parte do grupo já está definido e que alguns nomes que possam vir a ser escolhidos. Mas também é certo que ainda tem muita coisa pra acontecer até o início da Copa do Mundo e que poderemos ter algumas surpresas. Ainda mais sabendo das lacunas que ainda não foram preenchidas na Seleção Brasileira. E é por isso que precisamos ter calma com alguns julgamentos. Mesmo em ano de Mundial. Mesmo com tanto em jogo. E mesmo sabendo que Tite pode (e deve) abrir mão de alguns dos seus preceitos para convocar os jogadores certos para que modelo de jogo funcione de acordo com o esperado por todos nós.

Este que escreve entende as reclamações dirigidas para Tite e suas escolhas para a Seleção Brasileira. Tanto as justas como as exageradas. Mas é justamente por estarmos em ano de Copa do Mundo que até mesmo as análises precisam ser feitas com mais reflexão e mais cautela. Até para que os julgamentos mais apaixonados não nos fechem os olhos para o trabalho que vem sendo feito dentro de campo desde 2016 com muita eficiência. A Seleção Brasileira, apesar de tudo, ainda é extremamente competitiva.

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