Athletico Paranaense faz jogo correto e escancara o deserto de ideias que é o Flamengo hoje em dia


Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Alberto Valentim montou o Furacão e explorou todos os problemas coletivos do time de Renato Gaúcho

Como bem escreveu o jornalista Leonardo Miranda, não existe futebol sem espaço. O ataque, a defesa, a criação no meio-campo, tudo gira em torno de criar espaços para se chegar ao gol adversário e negá-los para evitar ser vazado. É assim desde os tempos de Fergus Suter. E como criar (ou negar) esse espaço depende da estratégia de cada treinador. A vitória do Athletico Paranaense sobre o Flamengo no Maracanã gira em torno desse “mantra” do futebol. O Furacão soube muito bem como explorar todos os problemas que o escrete comandado por Renato Gaúcho tinha para fechar seus espaços, entendeu muito bem o que deveria fazer com e sem a bola e ainda escancarou todos os problemas coletivos e criativos do seu adversário. Não que Alberto Valentim tenha trazido algo de novo ou apostado numa ideia mirabolante no Maracanã. Apenas fez sua equipe jogar de acordo com as suas limitações e entendeu muito bem o que deveria fazer para derrotar (e com justiça) o Flamengo de Renato Gaúcho e se garantir na decisão da Copa do Brasil.

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Por mais que a qualidade individual do Flamengo seja muito superior, as escolhas de Renato Gaúcho foram bastante equivocadas (e isso para ficarmos num termo “leve”). A começar pela manutenção de Diego Ribas numa partida que exigia tudo que ele não tinha condições de oferecer de dar: velocidade na saída para o ataque. Logo aos sete minutos, o camisa 10 perdeu a bola no meio-campo e originou o lance que culminou na penalidade clara de Filipe Luís em Renato Kayzer. Num lance semelhante, Nikão aproveitou aproveitou a recomposição defensiva terrível do Flamengo para fazer seu segundo gol (em falha gritante de Diego Alves) aos 52 minutos da primeira etapa. Notem que cada contra-ataque encaixado pelo Athletico Paranaense na partida desta quarta-feira (27) encontrava a defesa do flamenguista completamente desarrumada. Enquanto isso, Renato Kayzer, Terans e Nikão (o trio ofensivo do Furacão) faziam movimentos bem coordenados e ainda contavam com a chegada de Léo Cittadini por dentro para calibrar os passes em profundidade.

O Flamengo tinha enormes dificuldades para fechar a sua defesa e avançava a última linha sem se preocupar com a cobertura. O Athletico Paranaense teve espaços de sobra para contra-atacar. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Se o Athletico Paranaense era perigoso explorando os muitos espaços concedidos pela defesa do Flamengo, também é preciso destacar a aplicação tática dos jogadores na hora de defender a sua área. Nikão e Terans acompanhavam Filipe Luís e Isla até quase a linha da área e ainda saíam em alta velocidade quando o escrete de Alberto Valentim retomava a posse da bola. E no duelo de estratégias, o treinador do Furacão acabou se saindo muito melhor do que Renato Gaúcho. Por mais que ele tenha se justificado e assumido a responsabilidade pela derrota na entrevista coletiva, ainda é muito difícil quais eram as suas intenções com o posicionamento de Andreas Pereira pelo lado do campo (!!!) e com a manutenção de Gabigol longe da área do Athletico Paranaense. Ainda que sua equipe tenha finalizado 25 vezes a gol, onze delas foram na direção do gol de Santos e apenas três delas foram em chances claras de balançar as redes. Quer maior prova do jogo aleatório do Flamengo? Ou os números do SofaScore (ver acima) são suficientes?

Na prática, o Athletico Paranaense fechava bem a entrada da sua área, congestionava o meio-campo e aproveitava a melhor oportunidade para encaixar o contra-ataque. Tudo isso diante da tenebrosa organização defensiva e do claro nervosismo do Flamengo e explorando todas as deficiências da equipe carioca no campo de jogo e a falta de repertório de Renato Gaúcho. De nada adianta falar na retranca adversária se não há ideias para superá-las. Organizado num 3-4-3/3-4-2-1 com Marcinho e Abner Vinícius recuando para formar a linha de cinco na frente da área do goleiro Santos (o melhor em campo junto com o atacante Nikão), o Furacão sofreu com o “abafa” de um Flamengo completamente destemperado e sem criatividade, mas foi efetivos e aproveitou as chances que teve durante os noventa e poucos minutos com uma facilidade assombrosa. Nesse ponto, é preciso reconhecer o mérito de Alberto Valentim na escolha da estratégia e na montagem do Athletico Paranaense para a partida decisiva desta quarta-feira (27), no Maracanã.

Flamengo vs Athletico Paranaense - Football tactics and formations

Alberto Valentim manteve o 3-4-3/3-4-2-1 no Athletico Paranaense. Renato Gaúcho manteve Diego Ribas no time e posicionou Andreas Pereira mais pelo lado esquerdo do meio-campo.

As melhores chances do Flamengo nasceram de bolas roubadas no campo de ataque e dos bons passes de Everton Ribeiro. Não havia um lance originado da movimentação ofensiva ou da troca de passes por parte do escrete comandado por Renato Gaúcho. Tudo era feito de maneira aleatória, na base do “abafa” e sem um plano definido de como furar a linha de cinco defensores do Athletico Paranaense. Por mais que a entrada de Michael tenha melhorado a produção ofensiva do Flamengo, o que se via ainda era a falta de organização na hora de atacar, de um plano claro para furar a retranca do time de Alberto Valentim. Este, por sua vez, manteve sua estratégia, fechou a área do goleiro Santos e viu Zé Ivaldo marcar o terceiro depois de passe de Pedro Rocha (em mais um contra-ataque bem encaixado) e num momento em que o Furacão jogava com um a menos após a expulsão (justa) de Khellven após entrada maldosa em Ramon. Méritos de um Athletico Paranaense que entendeu o contexto do jogo e explorou as deficiências do seu adversário.

A falta de criatividade do Flamengo estava escancarada pelo bom posicionamento do time do Athletico Paranaense na frente da sua área. As melhores chances saíram no “abafa” e em, jogadas individuais. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Não existe futebol sem espaço. E Alberto Valentim compreendeu muito bem isso na estratégia do Athletico Paranaense para a partida desta quarta-feira (27). Internacional, Cuiabá e Fluminense entenderam muito bem como o Flamengo funcionava e ajudaram a escancarar as deficiências da equipe antes mesmo que o time de Alberto Valentim o fizesse. Por mais que o escrete de Renato Gaúcho tenha criado chances contra o Furacão, elas mais nasceram de uma pressão desordenada do que fruto de uma estratégia definida anteriormente nos treinamentos. Ainda que a entrada de Michael no lugar de Diego e o recuo de Andreas Pereira para a posição onde se sente mais confortável tenham sido acertos do treinador rubro-negro. Na prática, o Fla não soube criar espaços e nem fazer com que o Athletico Paranaense os concedesse. Assim como aconteceu nas últimas partidas da equipe da Gávea na temporada. Também não existia mais a grama sintética da Arena da Baixada para servir de desculpa. Apenas a retranca que o Flamengo não conseguiu superar em mais de noventa minutos de partida no Maracanã. Simples.

Certo é que o placar final (apesar de elástico) foi sim bastante justo diante de tudo o que se viu nesta quarta-feira (27). Venceu a equipe que melhor se organizou, que melhor compreendeu o contexto da partida e a que melhor executou seu plano de jogo. O Athletico Paranaense entendeu tudo isso e saiu vitorioso do Maracanã. Já o Flamengo terá que resolver e ajustar muita coisa se quiser ter um final de temporada mais feliz do que esse que está se desenhando. E Renato Gaúcho (que já entregou o cargo logo depois do jogo e foi demovido da ideia) vai precisar encontrar motivação e ideais sabe Deus onde para recuperar sua equipe.

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